Unidade recebe habilitação para uso de técnica inovadora no tratamento de queimaduras
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Referência no tratamento de queimaduras graves na cidade do Rio de Janeiro, o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Municipal Pedro II (HPMII), em Santa Cruz, realizou nesta quinta-feira, 16, seu primeiro transplante de pele post mortem, um método de tratamento de pacientes queimados que consiste na implantação de tecido epitelial captado de corpos de doadores. Antes disponível apenas nas redes federal e privada, o serviço passou a ser disponibilizado no HMPII após a unidade receber habilitação da Central Estadual de Transplantes. Além de trazer benefícios à recuperação dos pacientes, a novidade reforça o perfil pioneiro do CTQ do Hospital Municipal Pedro II, o maior centro de tratamento de queimados do Rio de Janeiro.
O primeiro paciente a receber transplante de pele post mortem no CTQ do Hospital Pedro II foi um homem de 27 anos que ficou com queimaduras profundas nos membros superiores e inferiores após sofrer uma descarga elétrica de alta tensão. O procedimento durou cerca de três horas e foi concluído sem intercorrências.
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O transplante de pele post mortem (ou aloenxerto) é especialmente indicada para pacientes com lesões extensas e profundas, em que não há tecido saudável suficiente para enxertos autólogos, ou seja, retirados do próprio paciente. Trata-se de uma solução temporária que permite estabilizar pacientes até que enxertos definitivos possam ser realizados, reduzindo riscos e aumentando as chances de recuperação. O método também pode ser usado em casos de queimaduras de terceiro grau, úlceras de difícil cicatrização e cirurgias reconstrutivas complexas.
Entre os benefícios do transplante de pele post mortem estão a proteção contra infecções (já que a pele humana funciona como uma barreira biológica natural), a redução da perda de líquidos e calor, a preservação da função da derme e a estabilização do quadro clínico até a implantação do enxerto definitivo. Além disso, por apresentar maior biocompatibilidade do que curativos sintéticos ou de origem animal, o aloenxerto proporciona melhores condições para a cicatrização e reduz as chances de complicações graves, já que dispensa a necessidade de cirurgias adicionais no paciente durante a fase inicial do tratamento.
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Captação e acesso
Para Carolina Junqueira, chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Pedro II, o credenciamento da unidade para a realização do transplante de pele post mortem é um avanço para toda a rede pública de saúde do Rio de Janeiro, pois amplia o acesso da população a uma importante técnica da medicina regenerativa.
“A doação de pele, assim como a de órgãos, é um ato de generosidade que salva vidas. A conscientização sobre essa prática é essencial para ampliarmos o acesso a tratamentos que fazem a diferença em situações críticas”, destaca a médica.
A captação do tecido que será usado no procedimento ocorre em unidades credenciadas, após a autorização da família do doador falecido, e segue protocolos rigorosos para garantir a qualidade e a segurança do material biológico. Após retirada, a pele é enviada a bancos de tecidos especializados vinculados à Central Estadual de Transplantes, onde é submetida a análises microbiológicas e procedimentos de preservação antes de ser disponibilizada para os hospitais.
A regulação do transplante segue normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde e pela Central Nacional de Transplantes. Assim como em outros transplantes, existe uma fila organizada com critérios que priorizam pacientes mais graves e com maior urgência, garantindo que o tecido seja destinado a quem mais precisa. Com o novo credenciamento, o HPMII passa a estar autorizado a realizar o transplante de pele post mortem nos pacientes da rede municipal de saúde.
O CTQ do Hospital Pedro II conta com um total de 21 leitos, sendo nove de tratamento intensivo, sete de enfermaria e cinco de pediatria. Desde o ano passado, a unidade também realiza o tratamento de queimaduras com laserterapia, sendo o único CTQ da cidade equipado com aparelhos de laser exclusivamente dedicados ao cuidado dos queimados. O HMPII também se prepara para implementar o uso de xenoenxertos, como a pele de tilápia, o que ampliará ainda mais a cartela de serviços disponíveis aos pacientes.